CRÔNICAS MARÍTIMAS    

A maioria das pessoas na terra jamais veriam a caldeira, muito menos a intensidade da energia do vapor dentro dela, até que o mesmo escape e cause danos equivalentes aos de uma guerra. A maioria das pessoas na terra nunca olham para cima, nem para os lados para ver o que acontece no mundo ao seu redor. Em vez disso, olham apenas para seus próprios pés, arrastando-os através do dia empoeirado. E se alguma vez olham para cima, normalmente é para ver se o tempo está chuvoso e se irá estragar seus piqueniques.

 
Poucos sentiam as chamas e o vapor transparente. E esses poucos começaram a fazer planos.
 
 
 
Alguns milhares de anos atrás o ser humano evoluiu o raciocínio e desenvolveu o espírito de aventura. As tribos que viviam nas proximidades do mar aventuraram-se nele. Construíam jangadas ou troncos ocos de árvores e logo experimentaram a emoção de se mover através da água, propelidos por ventos, ondas ou a própria força humana. Viveram também os primeiros desastres. Seus barcos afundaram, emborcaram ou quebraram, e vidas foram perdidas. Era natural que alguns construtores fossem julgados melhores que outros, e estes recebiam a consagração de seus colegas, logo vistos como artesãos ou artífices. Os artesãos mais inteligentes talvez observassem que utilizando dois troncos unidos ou quando uma forquilha era retirada, que o emborcamento era menos frequente. As ferramentas eram tentativas e erros e o estímulo era o orgulho. Estes eram os primeiros arquitetos navais.
 
Com o passar das gerações, a especialização dos artífices se desenvolvia: Os romanos criaram suas galeras; Os vikings produziam suas belas construções para navegar em mares pesados e em praias, carregando seus guerreiros. Centenas de anos depois os artesãos estavam projetando navios grandes para carregar mercadorias e para suas guerras, ainda dependentes de conhecimento passado através das gerações, guardados com extremo segredo. Ainda assim, continuavam aprendendo com tentativas e erros pois não tinham outras ferramentas, e os desastres marítimos continuavam acontecendo.
 
A necessidade de uma análise científica deve ter sido necessária muitos anos antes dela ser possível, e não era possível até recentemente, apesar da primeira pedra atirada por Arquimedes dois mil anos atrás.
 
A arquitetura naval hoje em dia envolve comprometimento com todos os conhecimentos desenvolvidos a partir do século XVII, com os grandes matemáticos estabelecendo fundações e bases para a maioria das ciências. A arte, hoje, talvez seja a maneira eficaz e eficiente da mistura destes conhecimentos nas proporções adequadas. Poucas áreas envolvem tanta variedade de conhecimentos e misturá-los em um todo aceitável. 
 
E existem ainda menos atividades tão fascinantes quanto. Esta é a engenharia Naval.
 
Espero aqui iniciar uma teia de conhecimentos aprendidos dentro ou fora da academia, e espero contagiar outros que também desejem compartilhar ou trocar experiências no que sabem, para que esta cadeia nunca mais se interrompa. 
 
- Hélio Amorim.